sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ibama pede retirada de urubus em obra da Bienal Órgão considera 'instalações inadequadas para manutenção das aves'. Em nota, fundação diz que busca 'solução para atender novas demandas'

Vista de cima da obra 'Bandeira branca', de Nuno 
Ramos, que ocupa o vão central da Bienal.
No detalhe, as aves sobre uma das 'chaminés' da
instalação (Foto: Daigo Oliva/G1)

O Ibama solicitou nesta sexta-feira (1) a retirada dos urubus que fazem parte da instalação do artista Nuno Ramos, em exibição na 29ª Bienal de São Paulo. Em comunicado, o órgão informa que enviou notificação "aos responsáveis pelos 'três urubus-de-cabeça-amarela' (Cathartes burrovianus)" pedindo "a retirada dos animais" por considerar que "as instalações estão inadequadas para a manutenção das aves".
O Ibama estipulou um prazo de cinco dias para que os animais sejam devolvidos ao Parque dos Falcões, em Sergipe, de onde foram cedidos. O prazo, ainda segundo o Ibama, visa atender "uma logística para que eles retornem com segurança ao seu habitat".
Entre os principais motivos alegados pelo Ibama para a retirada das aves, estão a "falta de insolação direta ou ventos" e a ausência de "isolamento de segurança entre o público e o local do cativeiro". O órgão informa ainda que na data da inspeção da obra, em 23 de setembro, não havia um médico veterinário no local. 

Procurado pelo G1 por telefone, Ramos disse que não se pronunciaria sobre o pedido do Ibama e afirmou que o caso seria resolvido pela Bienal.
Em nota, os organizadores da mostra afirmam que a instituição está analisando o pedido do Ibama, mas não esclarece se os animais serão retirados ou mantidos na obra.
"A Fundação Bienal recebeu na data de hoje um comunicado do Ibama SP, que já está em análise pelo departamento jurídico e pela liderança da Instituição, no sentido de buscar uma solução que atenda as novas demandas dos órgãos ambientais e possa, dentro da lei, conciliá-las com os valores de liberdade de expressão do artista e de independência curatorial, na tentativa de preservar a integridade da exposição", diz o comunicado.
Abaixo-assinado e pichaçãoA presença dos urubus na instalação "Bandeira branca", de Ramos, vem causando polêmica desde antes da abertura oficial da 29ª Bienal, que ocorreu no último sábado (25). Cientes da obra, internautas e grupo de defensores dos direitos dos animais chegaram a criar um abaixo-assinado contra a exibição da obra do artista na mostra.
Na ocasião, tanto Ramos quanto os organizadores da Bienal declararam que a presença dos animais estava "dentro da legislação" e que "o autor da obra possui todas as licenças exigidas pelos órgãos de preservação ambiental para o uso desses animais".
No sábado, dia da abertura da mostra, instalação
foi pichada (Foto: Filipe Araújo/Agência Estado)
"É importante deixar claro que não tiramos os animais da natureza", disse Ramos ao G1 na ocasião. "Os urubus pertencem ao Parque dos Falcões [em Sergipe], onde vivem em cativeiro. Só tirei de uma gaiola e pus em outra 30 vezes maior."
Ainda segundo o artista, o tratador das aves e o veterinário foram trazidos para São Paulo para verificar as condições de segurança e adaptação dos animais ao ambiente da Bienal. "Ao menor sinal [de problema], a gente vai atuar", afirmou Ramos na semana passada.
No último sábado, durante a abertura da Bienal para o público, houve protestos contra a exibição das aves e, ao final do dia, um grupo cortou a grade de proteção da obra de Nuno Ramos e pichou os dizeres "Liberte os urubu" (sic).
Montada no vão central do interior do prédio da Bienal, no parque Ibirapuera, a instalação de Ramos é composta por três grandes esculturas em formas geométricas, que lembram grandes túmulos. As peças são cercadas por uma tela de proteção que acompanha, de alto a baixo, a rampa e as curvas do prédio projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. No alto de cada uma delas, há caixas de som, que tocam trechos das músicas "Bandeira branca", "Carcará" e "Acalanto", além de poleiros que se parecem com chaminés, de onde as aves raramente saem.
Em 2008, a obra já havia sido montada em uma exposição n o Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília. Segundo Ramos, as aves usadas na época eram as mesmas que estão agora na instalação da Bienal.

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